Cheguei a acreditar que tudo ficaria bem e naquele momento, parecia mesmo que sim. Não podia ser tão diferente daquilo. Os instantes se apresentavam e tinham seu brilho e seguir com eles era a maneira mais legal de estar.
Mas faltava algo, eu tinha me acostumado a ser o cara do lado de fora, olhando para dentro. É estranho viver sem certezas. Postado no primeiro degrau, procurando pela chave de alguma coisa mais. Um medo frio soprando, aquela dúvida pairando sobre. Por isso, eu simplesmente parei.
Era o momento de perguntar, podemos tentar não exagerar nisto?
Eu sabia que era grande, tínhamos história, que a verdade era tanta. Mas não estava certo, não conseguia enxergar como antes. Queria fingir que era fácil, que estávamos passando por cima.
Mas é sempre inútil montar esse tipo de guerra verbal, palavras-trincheiras e frases explosivas. Você dizia que eu estava longe, congelado em minhas memórias. É que alguma coisa em mim tinha quebrado há muito tempo e eu não sabia explicar. Os pedaços irrompiam nas horas mais absurdas. Eu tinha perdido o prumo e não queria mesmo falar. Não estava pronto para ser o cara do lado de dentro, olhando para fora.
Memórias que escapavam como tardes de domingo.
Instantes vagueando pela sala em pontos brilhantes.
Imagens que espreitava com mil e oitocentos olhos, mas não conseguia apreender.
Nomes sussurrados, antigos como o amor.
O meu mundo inteiro etéreo, irreal.
Era tudo tão hipótese, ainda.